Tendinopatias do Tendão Tibial Posterior A disfunção do tendão tibial posterior (DTTP) é uma condição comum entre as patologias do pé e tornozelo. …
A dor lombar (lombalgia) é a principal causa de incapacidade em todo o mundo (Vos et a., 2018). Acredita-se que uma proporção significativa (16%–35%) dessas apresentações envolva o complexo da articulação sacroilíaca (Maigne et al., 2005; Liliang et al., 2011).
Há três grandes categorias de dor na articulação sacroilíaca (SI): dor na articulação SI relacionada à gravidez; patologia específica da articulação SI (por exemplo, espondiloartropatia ou fratura) e; dor relacionada à articulação SI de origem desconhecida ou inespecífica (Vleeming et al., 2008).
Quando um paciente procura atendimento devido a dor na região lombar, na cintura pélvica ou em ambas, o papel do profissional de saúde é realizar um exame minucioso e direcionar o cuidado adequado, e a síndrome da articulação SI é uma condição complexa que representa um diagnóstico difícil, portanto, os profissionais da saúde devem estar preparados para um manejo clínico adequado.
A articulação SI pode ser inferida como fonte de nocicepção local por meio de testes de provocação de dor bem documentados na literatura (Laslett et al., 2005).
No entanto, o resultado destes testes não informa ao profissional da saúde por que as estruturas estão sensíveis. Frequentemente, a disfunção do movimento da articulação SI é considerada como um fator responsável pelo aumento da sensibilidade do tecido local e dos sintomas subsequentes, no entanto, a plausibilidade biológica de se chegar a tais conclusões com base na detecção de disfunção de movimento e palpação da articulação tem sido questionada há mais de 10 anos (Beales et al., 2015). Um entendimento biopsicossocial é importante para diagnóstico e tratamento da complexidade da dor sacroilíaca.
As articulações sacroilíacas (figura 1), marcam a transição entre a extremidade caudal do esqueleto axial e o esqueleto apendicular inferior. Possui características estruturais únicas que satisfazem suas funções ímpares. A grande e rígida articulação SI se destina principalmente à estabilidade, assegurando uma transferência efetiva de cargas potencialmente altas entre a coluna vertebral, as extremidades inferiores e finalmente o chão (Neumann, 2021).
As articulações sacroilíacas, fazem parte da cintura pélvica, sendo seus componentes: o sacro, o par de articulações sacroilíacas, os três ossos de cada hemipelve (ilíaco, púbis e ísquio) e a articulação da sínfise pubiana.
Estruturalmente, a articulação SI é relativamente rígida, na vida adulta se torna uma articulação sinartroidal modificada, ou seja, possui pequena separação com tecido conjuntivo fibroso entre os ossos, tornando-a praticamente imóvel. A articulação é reforçada por um extenso e espesso conjunto de ligamentos para fornecer estabilização. As articulações são inervadas pelo sistema somatossensorial, e, portanto, podem ser fonte de nocicepção (Neumann, 2021).
A prevalência de dor lombar ao longo da vida é em torno de 85%, em cerca de 25% destes pacientes, a articulação sacroilíaca pode ser uma importante fonte nociceptiva da dor. A maioria das patologias da articulação SI afeta uma população de pacientes adultos.
No entanto, existe uma distribuição bimodal com dois picos – adultos mais jovens, após lesões desportivas ou gravidez e, adultos mais velhos, possivelmente relacionado ao processo natural de degeneração articular e/ ou estilo de vida.
Esta condição pode afetar ambos os sexos, feminino e masculino, e a disfunção na articulação pode ser mais comum em indivíduos que levam um estilo de vida sedentário (Raj et al., 2023).
s sintomas da dor sacroilíaca costumam ser difíceis de distinguir de outros tipos de dor lombar. É por isto, que o diagnóstico é muito complexo. Os pacientes geralmente se queixam de dor profunda, que pode se estender pela parte posterior da coxa e até o joelho.
A dor pode frequentemente parecer e ser diagnosticada erroneamente como dor radicular. Os pacientes também podem queixar-se de dor ao sentar-se, deitar-se sobre o lado ipsilateral ou ao subir escadas. A dor da articulação sacroilíaca geralmente segue um evento desencadeante e não surge insidiosamente (Chou et al., 2004). O evento desencadeante ajuda a diferenciar entre a dor que surge na articulação sacroilíaca e a dor que surge nas articulações facetárias ou no disco.
A dor facetogênica ou discogênica tende a ser de início insidioso, enquanto pacientes com disfunção da articulação sacroilíaca podem identificar um evento precipitante. Os eventos precipitantes usuais são colisões de veículos motorizados, quedas, estresse repetitivo ou gravidez (Raj et al., 2023).
Pacientes com disfunção isolada da articulação SI geralmente localizam sua dor inferior e medialmente à EIPS (espinha ilíaca póstero-superior).
Apontar o dedo para esta área é o teste do dedo de Fortin (Fortin e Falco; 1997). Porém, a dor localizada nem sempre é uma apresentação clínica confiável (Thawrani et al., 2019). Um exame físico abrangente deve considerar patologias alternativas na coluna toracolombar, órgãos pélvicos ou quadril que possam referir dor à região posterior do quadril.
Vários testes de estresse para identificar disfunção da articulação sacroilíaca são descritos na literatura. Infelizmente, não existe um teste único que seja sensível e específico na identificação da disfunção da articulação sacroilíaca. Abaixo, é descrito os principais testes utilizados para avaliação da dor SI (Raj et al., 2023):
A presença de três ou mais testes provocativos poderá aumentar a precisão diagnóstica (Szadek et al., 2009). No entanto, há mais de uma década que as evidências desafiam a plausibilidade destes testes para diagnosticar uma suposta disfunção de movimento da articulação SI (Laslett M, 2008). As críticas incluem questões como o fato de os examinadores detectarem manualmente os movimentos da articulação SI através de múltiplas camadas de tecido, e o fato de os movimentos serem tão pequenos que a detecção externa por métodos manuais é questionável. Dada a dificuldade perceptual inerente à detecção de movimentos tão pequenos, é provável que qualquer percepção de movimento possa ser atribuída a outros fatores, tais como o movimento dos tecidos moles ou a ativação muscular associada à dor como resposta à atividade nociceptiva.
A dor sacroilíaca é de natureza multidimensional, a sensibilidade mecânica é apenas um componente da experiência de dor produzida pelo cérebro em resposta à ameaça percebida ao tecido. A avaliação da ameaça pelo cérebro é um processo complexo que não é totalmente compreendido (Apkarian et al., 2011).
As alterações no padrão de movimento parecem ocorrer imediatamente após o início da dor e podem, portanto, ser uma resposta natural à percepção de ameaça. Tais mudanças parecem ser influenciadas por fatores cognitivos, como o medo do movimento (Karayannis et al., 2013), a falha na reversão dessas crenças pode resultar na manutenção da dor (Hodges e Moseley, 2003). Portanto, avaliar aspectos cognitivos, relacionados às crenças inadequadas também apresenta importante relevância clínica.
Além dos testes clínicos, estudos de imagem podem ajudar a descartar outras possíveis fontes de nocicepção. Radiografias simples identificam patologias no quadril e também alterações na articulação sacroilíaca. A tomografia computadorizada fornece anatomia mais detalhada da arquitetura óssea. Vale ressaltar que exames de imagem são recomendados apenas uma presença de bandeiras vermelhas, achados inespecíficos nos resultados de tais exames estão associados à piora funcional de pacientes com dor crônica, isto pode reforçar crenças inadequadas (atribuindo dor à vulnerabilidade estrutural/ anatômica da coluna) e, portanto, contribuindo para um ciclo vicioso de medo-evitação (Lin et al., 2013).
A avaliação fisioterapêutica também envolve avaliação da amplitude de movimento, mobilidade, palpação (sobre a articulação SI geralmente provoca dor), movimentos evitados/ temidos, assim como movimentos mal adaptativos.
Questionários
A dor é uma experiência individual e complexa, portanto, as várias dimensões da dor, devem ser avaliadas. Existe uma gama de instrumentos disponíveis na literatura para avaliar as dimensões sensorial, cognitivo/ comportamental e afetiva da dor. O clínico deve realizar uma escuta atenta e direcionar a sua avaliação, aqui são apresentadas algumas ferramentas que podem auxiliar nesta avaliação:
O tratamento conservador é indicado para o manejo da dor SI, terapias não cirúrgicas convencionais, como medicamentos, fisioterapia, denervação por radiofrequência e injeções diretas na articulação SI, podem apresentar algum benefício terapêutico (Falowski et al., 2020). Os profissionais da saúde, devem, primariamente, treinar suas habilidades de comunicação, considerando o efeito potencialmente prejudicial das mensagens implícitas e explícitas de fragilidade que transmitem através da avaliação e gestão com base num paradigma de disfunção do movimento.
Crenças relacionadas às percepções de fragilidade baseadas em explicações patoanatômicas estão ligadas a um comportamento de evitação que, por sua vez, pode sustentar a dor e a incapacidade em um ciclo vicioso de medo e evitação. Assim, os profissionais da saúde precisam considerar cuidadosamente a influência que as explicações patoanatômicas e os rótulos que sugerem fraqueza estrutural, anormalidade ou instabilidade têm nas crenças, comportamentos e respostas emocionais dos pacientes (Thorvaldur et al., 2019).
Reconceitualizar crenças relacionadas a dor está alinhado com a literatura atual dos conhecimentos modernos da neurociência da dor, por exemplo:
Manipulação Lombar
Portanto, modalidades combinadas de tratamento fisioterapêutico apresentam boa eficácia para o tratamento da dor SI. Exercícios globais, exposição com controle aos movimentos temidos, educação baseada em neurociência da dor e terapia manual são recomendados para um tratamento integral destes pacientes.
A educação desempenha um papel vital na gestão do cuidado ao paciente, dar sentido à dor do paciente parece ser um processo importante para promover o autocuidado.
O processo de reabilitação deve envolver metas de tratamento compartilhadas com o paciente, assim como, os instrumentos de auto-relato podem fornecer critérios para alta de forma quantitativa, portanto, ressignificar crenças inadequadas e melhorar o enfrentamento da condição, podem desempenhar um papel importante para o sucesso terapêutico a longo prazo.
Pesquisas anteriores demonstraram que o questionário ODI apresentou mínima mudança importante de 10-12 pontos, e a END apresentou uma mínima mudança importante de pelo menos 2 pontos (Ostelo et al., 2008). Portanto, reduzir minimamente estas pontuações nas escalas de incapacidade e dor, podem ser critários para alta, assegurando uma melhora clínica importante do paciente.
Para aprofundar seus conhecimentos sobre o manejo da dor sacroilíaca, assista o episódio #116 – “Dor Sacro-Iliaca: Precisamos ser específicos?” com Murilo DeMarco, disponível [aqui].
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