Tendinopatias do Tendão Tibial Posterior A disfunção do tendão tibial posterior (DTTP) é uma condição comum entre as patologias do pé e tornozelo. …
A Tendinopatia Patelar (TP) costuma ser um importante acometimento da articulação do joelho, frequentemente apresentada como dor anterior na articulação, resulta em limitações funcionais expressivas, especialmente na população esportiva. Abordaremos aqui, pontos importantes relacionados à biomecânica, avaliação, e tratamento desta condição, nos acompanhe nos tópicos a seguir.
Por: Mariana Lira
A tendinopatia patelar (TP), uma das possíveis fontes de dor anterior do joelho, é caracterizada por dor localizada no polo inferior da patela e dor relacionada à carga que aumenta com a demanda dos extensores do joelho, principalmente em atividades que armazenam e liberam energia no tendão patelar (Ferretti et al., 1983).
A TP é uma condição que afeta principalmente atletas relativamente jovens (15 a 30 anos), especialmente homens, que participam de esportes como basquete, vôlei, saltos atléticos, tênis e futebol, que exigem carga repetitiva do tendão patelar (Lian et al., 2005). É uma condição debilitante e pode resultar em afastamentos prolongados e aposentadorias esportivas precoces (Kettunen et al., 2002).
A força necessária para saltar, aterrissar, cortar e girar, que envolve muitos gestos esportivos, exige que o tendão patelar armazene e libere energia repetidamente. O armazenamento e liberação de energia (semelhante a uma mola) dos tendões são recursos essenciais para alto desempenho, reduzindo o custo de energia dos movimentos humanos.
Movimentos repetidos dessas atividades com repouso insuficiente para permitir a remodelação entre as altas demandas, pode induzir patologia e alteração nas propriedades mecânicas do tendão, o que é um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas (Shepherd, 2013).
Embora alguns fatores de risco intrínsecos para TP tenham sido identificados, como sexo, peso e índice de massa corporal, o fator de risco mais significativo parece ser a carga de treinamento, ou seja, um fator de risco extrínseco, que pode ser controlável (Maciel Rabello et al., 2019).
O tendão patelar (figura 1), também denominado ligamento patelar, é uma extensão do tendão quadricipital, estrutura que vai do polo inferior da patela até a tuberosidade anterior da tíbia, ou seja, liga duas estruturas ósseas.
Como o músculo quadricipital controla diretamente sua função, e a sua aparência macro e microscópica é semelhante à de um tendão, este ligamento é mais comumente denominado como tendão. A força gerada pelos músculos do quadríceps atua através da patela como uma polia, fazendo com que o joelho se estenda (Peers and Lysens, 2005).
Um tendão saudável é composto principalmente por fibras colágenas paralelas compactadas (86%). O colágeno é predominantemente do tipo I (Lin et al., 2004). Uma das principais funções do tendão patelar é a de transmitir as forças geradas pela contração do quadríceps para a tíbia, produzindo movimento. Além dessa função, o tendão patelar (assim como o tendão do calcâneo), tem um papel adicional de armazenamento de energia.
O tendão se alonga e retrai a cada passada, armazenando e liberando a energia e, consequentemente, maximizando a eficiência do movimento ou exercício. Para que essa função de armazenamento e liberação de energia ocorra de forma eficaz, o tendão patelar apresenta propriedades mecânicas específicas, incluindo maior extensibilidade, elasticidade e resistência à fadiga (Thorpe et al., 2016).
Nutarelli e colaboradores (2023) determinaram em uma revisão sistemática a prevalência e incidência da TP em atletas e na população em geral, e encontraram que:
Veja na figura 2 a Distribuição geográfica da prevalência de TP, com a indicação do tipo de esporte, quando praticado.
A tendinopatia patelar é um dos muitos diagnósticos potenciais para um paciente que apresenta dor anterior no joelho. São consideradas duas características clínicas definidoras (Malliaras et al., 2015):
O primeiro desafio clínico é estabelecer se o tendão é a fonte dos sintomas do paciente. Um diagnóstico diferencial é importante para um correto tratamento, por exemplo, dor ao sentar-se por muito tempo, agachar-se e subir escadas, podem estar presentes na TP, mas também são características da dor femoropatelar (DFP) e potencialmente de outras patologias. Portanto, o conhecimento das características clínicas específicas e marcantes da condição em questão, é essencial para um diagnóstico preciso.
Abaixo encontramos características específicas da dor associada à TP:
Para avaliar a relação dor vs. dose é sugerido uma progressão de um agachamento raso para um agachamento mais profundo, ou de uma altura de salto menor para uma maior.
Avaliar a irritabilidade da dor é uma parte fundamental do tratamento da TP e consiste em determinar a duração do agravamento dos sintomas após uma sessão de treinamento. Estudos sugerem que até 24 horas de provocação de dor após atividades de armazenamento de energia podem ser aceitáveis durante a reabilitação (Kongsgaard et al., 2009).
A intensidade de dor pode ser avaliada pela Escala Numérica de Avaliação da Intensidade da Dor (END), que é uma escala simples que avalia os níveis de intensidade da dor percebida pelo paciente usando uma escala de 11 pontos, variando de 0 “sem dor” a 10 “pior dor possível” (Costa et al., 2008).
O Questionário Victorian Institute of Sport Assessment Patella (VISA-P) é uma medida de resultado de dor e função, específico para TP, que pode ser utilizada para avaliar a gravidade dos sintomas, bem como para monitorar os resultados. O escore varia de 0 a 100, sendo que escores menores indicam maior disfunção (Wageck et al., 2013).
Um exame minucioso de toda a extremidade inferior é necessário para identificar déficits relevantes na região do quadril, joelho e tornozelo/pé. Atrofia ou força reduzida nos músculos glúteo máximo, quadríceps, e panturrilha, são frequentemente observadas na patologia da TP e pode ser avaliada objetivamente com testes clínicos, como: ponte ou agachamento unipodal, extensão resistida do joelho e flexão plantar. Flexibilidade do quadríceps e isquiotibiais, bem como amplitude de movimento de dorsiflexão do tornozelo com sustentação de peso têm sido associados à TP e também devem ser avaliados (Malliaras et al., 2015).
Os déficits nas atividades de armazenamento de energia podem ser avaliados clinicamente pela observação de saltos. Há evidências de que uma estratégia de salto vertical com joelho rígido (redução da flexão do joelho no pico da força vertical de reação do solo) pode ser observada em indivíduos com histórico de TP (Bisseling et al., 2007).
Exames de imagem do tendão patelar não confirma o diagnóstico de TP, pois a patologia observada por meio de ultrassonografia pode estar presente em indivíduos assintomáticos (Malliara et al., 2006).
Consequentemente, imagens seriadas não são recomendadas, pois a relação dor vs. alteração no exame de imagem, é incerta. No entanto, a imagem pode ser útil para incluir ou excluir possíveis diagnósticos alternativos de dor anterior do joelho quando o quadro clínico não é claro.
A intervenção mais investigada para a TP é o exercício, especialmente o exercício excêntrico (Malliaras et al., 2013). Por exemplo, no agachamento em declínio (figura 3), a fase concêntrica do agachamento é realizada usando ambas as extremidades inferiores ou apenas o lado não afetado, a fase excêntrica é realizada pelo lado afetado e a inclinação foi desenvolvida para concentrar a carga no tendão patelar.
No entanto, o exercício excêntrico para o tratamento da TP pode ser muito agressivo para pacientes com alto nível de irritabilidade, principalmente durante temporadas esportivas. O exercício excêntrico, se aplicado de forma isolada, falha em abordar déficits específicos que podem coexistir ao longo da cadeia cinética, como fraqueza na panturrilha. Apesar do amplo uso clínico do exercício excêntrico para o tratamento da TP, existem dados limitados de alta qualidade que demonstram resultados clínicos positivos dessa abordagem (Malliaras et al., 2013).
Kongsgaard e colaboradores (2009), recomendaram exercícios de resistência para a reabilitação da TP (figura 4). Uma progressão gradual de reabilitação é apresentada em 4 estágios para o tratamento da TP. O foco está no desenvolvimento da tolerância de carga do próprio tendão, da unidade musculoesquelética e da cadeia cinética. Os critérios de progressão são individualizados, com base na dor, força e função.
Avaliar a dor dentro das 24 horas após a sessão, pode ser importante para determinar se a carga foi tolerada adequadamente, assim como, pode ser utilizada como parâmetro para determinar a progressão das fases do processo de reabilitação. Alguns autores sugerem que um nível de dor de até 3 a 5 em uma escala numérica de 0 a 10 (0 “sem dor” e 10 “pior dor imaginável”) durante e após o exercício é aceitável (Kongsgaard et al., 2009).
Exercício de manutenção são essenciais para prevenção de novos episódios de irritabilidade dos tendões. Uma vez que os atletas tenham retornado ao esporte, exercícios de fortalecimento e de flexibilidade devem estar presentes no treino para fins de prevenção, assim como, tempo suficiente de recuperação entre os treinos.
Abaixo listamos algumas possíveis falhas de gerenciamento da TP:
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A reabilitação da tendinopatia patelar pode ser um processo lento e frustrante, tanto para o atleta quanto para o clínico.
O retorno ao esporte é recomendado quando o treinamento completo é tolerado sem provocação dos sintomas, quando quaisquer déficits de força ou flexibilidade pré-existentes tenham sido resolvidas, assim como, a recuperação da altura máxima do salto vertical e os padrões biomecânicos normais, tenham sido recuperados.
A educação sobre os conceitos de dor pode tornar a alta mais segura para o paciente, evitando comportamentos de medo-evitação e novas recidivas, pois envolve a compreensão sobre a patologia e estratégias de auto manejo para prevenção de novos episódios de dor.
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