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Artroplastia total de joelho

A Artroplastia total de joelho (ATJ) é uma cirurgia que tem como objetivo substituir a articulação do joelho por uma prótese de joelho artificial, este é um dos procedimentos cirúrgicos que mais acontecem no mundo. Esse procedimento é frequentemente indicado para tratar osteoartrites (OA) graves dessa articulação. Nesses casos, pacientes costumam se encontrar com limitações severas durante atividades do dia-a-dia, altos níveis de dor e restrições em atividades sociais.

Por: Bruno Grüninger

Artroplastia total de joelho

A ATJ é uma cirurgia que tem como objetivo substituir a articulação do joelho danificada ou desgastada por uma prótese de joelho artificial, composta por componentes metálicos e de polietileno.

Ilustração da prótese de joelho
Figura 1. Ilustração da prótese de joelho (fonte: Google)
Componentes tibiais e femorais da prótese de joelho
Figura 2. Componentes tibiais e femorais da prótese de joelho (Fonte: Google)
Raio-X demonstrando a protetização de joelho
Figura 3: Raio-X demonstrando a protetização de joelho (Case Courtesy of Jeremy Jones, Radiopaedia.com)

Por mais que pareça uma simples “substituição” de estruturas anatômicas, a artroplastia total de joelho é uma cirurgia bastante complexa que tem como objetivo restaurar a função da articulação do joelho. 

A ATJ tem sido comprovada como muito satisfatória para o alívio das dores e para a restauração da função articular e diversos estudos demonstram uma melhora importante na qualidade de vida dos pacientes submetidos a esse procedimento (Olsen et al, 2022). 

Portanto, é importante que os pacientes submetidos à artroplastia total de joelho recebam cuidados pré e pós-operatórios adequados para promover uma recuperação funcional completa e satisfatória. 

Vale destacar que nosso objetivo é aprofundar a discussão em aspectos da Fisioterapia e em casos de Artroplastia Total de joelho. Dessa forma, ficará de fora técnicas de cirurgia ou ainda artroplastia parcial de joelho.

Anatomia e Biomecânica da Artroplastia total de joelho

O joelho é uma articulação do tipo sinovial que conecta o fêmur à tíbia e à patela, permitindo a flexão e extensão do membro inferior. É formado por três compartimentos articulares, sendo eles: femorotibial medial, fêmorotibial lateral e fêmoro-patelar.

O fêmur apresenta duas eminências, os côndilos femorais medial e lateral, que se articulam com as superfícies tibiais mediais e laterais, respectivamente. A patela é um osso sesamóide que se articula com o fêmur na articulação femoropatelar e auxilia na redução do atrito entre a patela e o fêmur.

Os ligamentos são estruturas responsáveis por estabilizar o joelho e evitar movimentos excessivos de translação anterior (LCA) e hiperextensão (LCP). O ligamento colateral medial (LCM) e o ligamento colateral lateral (LCL) restringem os movimentos laterais da articulação. Além disso, existem os meniscos mediais e laterais, que são discos fibrocartilaginosos em forma de “C” que se localizam entre os côndilos femorais e as superfícies tibiais, auxiliando na absorção de choques e distribuição de cargas.

Joelho visto no plano frontal, com suas estruturas ligamentares e ósseas.
Figura 4: Joelho visto no plano frontal, com suas estruturas ligamentares e ósseas.

A biomecânica do joelho é complexa, envolvendo diversos fatores, como a forma das superfícies articulares, os ligamentos e os músculos que atuam na articulação. Durante a flexão do joelho, ocorre o deslizamento posterior do fêmur sobre a tíbia, enquanto na extensão ocorre o deslizamento anterior. Os músculos da coxa, como o quadríceps e os isquiotibiais, atuam na extensão e flexão do joelho, respectivamente, enquanto os músculos da perna, como o tríceps sural, auxiliam na flexão plantar e extensão dorsal do tornozelo.

A osteoartrite de joelho é a patologia mais representativa nos casos que evoluem para cirurgia de ATJ. Clinicamente, os indivíduos afetados pela OA podem apresentar com frequência dor persistente, rigidez matinal, crepitação, instabilidade articular, edema e fraqueza muscular. A longo prazo, podem manifestar redução do nível de atividade física, descondicionamento, distúrbios do sono, fadiga, depressão e incapacidade. Por esses motivos, a escolha pela cirurgia aparece como sendo viável para pacientes que já tentaram um tratamento conservador sem sucesso (Sharma et al, 2021).

No entanto, a cirurgia pode levar a limitações e restrições de movimento por vários fatores. A diminuição da força muscular, por exemplo, pode ser reduzida em 20-25% no período de um mês após a ATJ e, mesmo após um ano, permanece mais baixa (13% em média) do que em adultos saudáveis. Essa redução na força muscular pode limitar ainda mais a capacidade do paciente de recuperar o movimento normal da articulação do joelho e aumentar o tempo de reabilitação (Jette, 2020).

Além disso, pacientes apresentam uma velocidade de caminhada 18% mais lenta e uma velocidade de subida de escadas 51% mais lenta (Chang et al, 2022). Igualmente, a amplitude de movimento (ADM) da articulação envolvida pode permanecer reduzida devido à dor pós-operatória, presença de hematoma e inchaço por conta do processo cirúrgico. Infelizmente, essas limitações de movimento completam a recuperação funcional em apenas 67% dos pacientes (Masaracchio et al, 2017). E isso só mostra a importância de uma boa fisioterapia na fase pós-operatória.

Fatores de Risco

Estudos atuais sugerem que um índice de massa corporal (IMC) pré-operatório mais alto apresenta moderada relação com piora da função física e alta correlação com a gravidade da OA (Olsen et al, 2022) . 

Além disso, é importante ressaltar que práticas esportivas de alta intensidade aparecem como fator de predisposição de OA, o que pode gerar a necessidade futura de uma cirurgia de ATJ. Ackerman et al (2021) encontrou, durante o período avaliado no seu estudo (2000-2015), 64.038 lesões relacionadas ao esporte, sendo que 7.205 eram no joelho, que fizeram com que o paciente procurasse hospital. Desse total, 326 tiveram que realizar o procedimento de ATJ. Ainda, a partir de uma análise estatística multivariada, constatou-se que ter uma lesão prévia no joelho dobrou o risco de uma subsequente ATJ no futuro (razão de risco | hazard ratio 2,41; IC 95% – 1,73-3,37). 

Embora o número absoluto de procedimentos de ATJ tenha sido relativamente pequeno, essa é uma estimativa de probabilidade que é estatística e clinicamente significativa. A partir disso, é  fundamental ter uma política de saúde voltada para a prevenção de lesões no joelho relacionadas aos esportes, a fim de diminuir esse prejuízo. O autor também conclui que são necessários acompanhamentos mais longos para confirmar essa relação. 

Outro fator importante que tem que ser considerado é o histórico de lesões traumáticas, que independem da prática esportiva.  

Além disso, outros fatores sugerem uma predisposição à ATJ. Mas cabe ressaltar que a cirurgia só irá ocorrer em casos graves que envolvam uma patologia primária, como a OA de joelho. Assim, os fatores de risco apontados na lista abaixo são os que envolvem o surgimento e perpetuação da OA, como: 

  • Idade avançada: a OA é mais comum em pessoas acima dos 50 anos;
  • Sexo feminino: a OA é mais comum em mulheres;
  • Obesidade: o excesso de peso aumenta o estresse nas articulações e pode levar à OA;
  • Fatores Genéticos: pessoas com histórico familiar de OA têm maior risco de desenvolver a doença.
Cabe ressaltar que, apesar de a OA ser a principal causa de artroplastia total de joelho, há outras condições que podem levar à necessidade da cirurgia, como artrite reumatoide, doença de Paget, osteonecrose, entre outras (Varacallo et al, 2023). 

E também é importante entender que esses fatores nunca atuam de forma independente, ou seja, é preciso analisar todo o contexto do paciente antes de afirmar que ele terá que ser submetido a ATJ por conta do item A ou B.

A cirurgia de Artroplastia total de joelho deverá ser indicada quando:  

→ Tratamento conservador (pelo menos 12 semanas) falhou; 
→ Doença primária evoluiu; 
→ Altos níveis de incapacidade; 
→ Dor persistente e em alta frequência, sem relatos de melhora.

Epidemiologia

Nos Estados Unidos, que é o país que mais realiza essa cirurgia, o número de artroplastias de joelho tem aumentado significativamente nos últimos anos. De acordo com o Registro Nacional de Cirurgias de Artroplastia do American Joint Replacement Registry (AJRR), em 2019 foram realizadas mais de 750.000 cirurgias de substituição total de joelho. Esse aumento pode ser atribuído a uma série de fatores, incluindo a crescente demanda por tratamentos cirúrgicos para doenças articulares e o envelhecimento da população (Al Rawashdeh W, 2021). Só para se ter uma ideia da grandeza disso, estima-se que, desde 2012 até 2050, a quantidade desse tipo de cirurgia irá aumentar 855%. 

Atualmente, 150/200 cirurgias de ATJ para cada 100.000 habitantes são realizadas nos países desenvolvidos. No entanto, outros países também têm visto um aumento significativo no número de artroplastias de joelho. A China, por exemplo, tem uma população cada vez mais idosa, o que tem levado a um aumento na demanda por tratamentos cirúrgicos para doenças articulares. Segundo dados de 2020, o número de artroplastias de joelho na China foi de aproximadamente 500.000. Na Índia, a prevalência de OA do joelho tem aumentado significativamente, levando a um aumento na demanda por cirurgias de prótese de joelho. Já no Japão, a artroplastia total de joelho é uma das cirurgias mais comuns, com cerca de 150.000 procedimentos realizados a cada ano.

De acordo com a pesquisa “Global, regional, and national burden of osteoarthritis 1990–2017: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2017” publicada na The Lancet em 2020, as 10 nações com as maiores taxas de anos vividos com incapacidade relacionada à OA incluem China, Estados Unidos, Índia, Japão, Alemanha, Brasil, Indonésia, Reino Unido, Rússia e França (Safiri et al, 2020). 

Nesse aspecto é importante ressaltar que a baixa qualidade dos programas de recuperação funcional, a escassez de medidas preventivas em larga escala, associada a falta de encaminhamento dos pacientes, por parte dos médicos, para programas de fisioterapia pode contribuir para o aumento da demanda por ATJ no cenário atual. 

Avaliação

 → Itens essenciais no processo de avaliação, seja na fase pré-cirúrgica, no PO imediato e nas fases posteriores. 

→ NPRS – Numeric Pain rating Scale → Escala numérica de dor

Além desses itens, é extremamente importante entender aspectos do dia-a-dia do paciente e as atividades que ele gostaria de voltar a executar. 

Tópicos de Tratamento

Inicialmente, precisamos entender quais fatores costumam influenciar os resultados pós-cirúrgicos (Chang et al, 2022)

  • Paciente colaborativo costuma apresentar melhores resultados; 
  • Quando maior o índice de incapacidade pré-cirúrgico, menor é a capacidade de recuperar-se totalmente; 
  • A depender do tipo de cirurgia e do material utilizado, o prognóstico pode ser desfavorável; 
  • Pacientes que apresentem comorbidades tendem a apresentar resultados insatisfatórios; 
  • Pacientes com alto risco de cronificação dos sintomas da OA, por exemplo, costumam apresentar piores níveis de satisfação pós-cirúrgico. 

Além de todos esses itens, a realização ou não de fisioterapia parece estar intimamente relacionada às melhorias da condição de saúde geral do paciente. Embora isso pareça ser óbvio, ainda existem alguns cirurgiões que optam por manter o paciente SEM tratamento fisioterapêutico. 

Nesses casos, sempre é válido entrar em contato com o médico e conversar sobre a importância da fisioterapia. A boa comunicação e integração com os médicos ortopedistas fazem com que o processo seja centrado no paciente e que os ganhos sejam ainda mais latentes. Além do que, é necessário o conhecimento das informações cirúrgicas para saber o caminho a ser tomado, como por exemplo tipo de prótese, enxerto ósseo, uso de cimento ou não. 

Considerações iniciais do tratamento fisioterapêutico: 

No âmbito da intervenção fisioterapêutica em pacientes submetidos à colocação de prótese de joelho, é imprescindível que se compreenda a necessidade de uma abordagem globalizada, uma vez que os elementos do corpo são interdependentes. A alta hospitalar, em geral, é rápida, com duração em torno de três dias, exceto em casos de complicações. Cumpre ressaltar, no entanto, que essa variável pode ser influenciada pelo tipo de cirurgia realizada e pelo histórico clínico do paciente.

No processo de retorno à independência funcional, é de suma importância que o fisioterapeuta esteja atento, haja vista que pacientes com prótese de joelho frequentemente apresentam acometimentos no membro contralateral e déficits funcionais pré-existentes decorrentes do processo natural de envelhecimento ou de alterações decorrentes de atividades físicas/esportivas anteriores (tais como assimetrias e lesões prévias). 

Ademais, outros fatores, como sobrepeso, restrições na amplitude de movimento, fraqueza muscular e limitação da mobilidade articular, podem ser comuns nesses pacientes. 

Aspectos relevantes

 Fisioterapia pré-operatória

Uma revisão sistemática com metanálise (Punnose et al, 2023) apurou que a Fisioterapia pré-operatória foi associada a uma melhora moderada em vários desfechos (função do joelho, força do flexor do joelho e abdutor do quadril, qualidade de vida relacionada à saúde e teste de caminhada de 6 minutos) em pacientes submetidos a qualquer tipo de procedimento ortopédico. No entanto, o alto risco de viés e a inconsistência da qualidade das evidências, fazem com que esses resultados sejam olhados com desconfiança.
O que podemos afirmar até agora é que uma duração mínima de 4 a 6 semanas, com 2 sessões por semana, podem ser recomendadas para pacientes submetidos a cirurgia ortopédica, inclusive a ATJ, com riscos mínimos para saúde do paciente. 
Além disso, nesse momento, deve ser realizada a orientação sobre a cirurgia, sobre os movimentos adequados, acerca dos cuidados pós-operatórios, do treino de marcha com muletas ou andador. 

Esclarecer as dúvidas gerais dos pacientes, que costumam ser: 

  • Aspecto cicatricial: em condições normais, a cirurgia será extensa, bem acima do joelho, como visto na imagem abaixo (imagem 5).

Figura 5: aspecto cicatricial pós cirurgia (fonte: google)
Figura 5: aspecto cicatricial pós cirurgia (fonte: google)

  • Como entrar no carro para sair do hospital: sugere-se sentar com as duas pernas para fora, colocando mais carga na perna não-operada. Posicione a perna operada em extensão e ajude-a a entrar no carro.

Figura 6: representação de como paciente deverá entrar no carro para sair do hospital
Figura 6: representação de como paciente deverá entrar no carro para sair do hospital
  • Organização da casa: pense que, por um tempo, você poderá usar muletas ou andador e adeque seu espaço para isso. Cheque se o trajeto corriqueiro está iluminado, tome cuidado com chão escorregadio, atenção aos tapetes e animais domésticos. 
  • Quando voltar a andar? Costuma ser rápido, mas evolui de acordo com cada paciente. Condições normais fazem com que até 2 semanas o paciente já esteja sem auxílio de dispositivo auxiliar, e em até 6 semanas o padrão de marcha já esteja restaurado.

Início precoce

A fisioterapia para paciente pós ATJ deve ser estimulada o mais precocemente possível. Embora os pacientes costumam apresentar medo e receio, os ganhos de amplitude de movimento e melhora da rigidez articular são maiores do que o risco da intervenção. Normalmente pacientes que iniciam o tratamento no pós-operatório (PO) 0 apresentam menores tempos de internação, ADM e níveis de força retomados mais rapidamente e um melhor padrão de marcha que os pacientes que iniciam o tratamento no 2o. dia de PO. Além disso, se as condições do paciente melhoram mais rapidamente, o sistema se beneficia uma vez que o custo total diminui (Masaracchio et al, 2017).

Dentro do início precoce, precisamos orientar o paciente quanto ao posicionamento, seja no leito, seja na sua cama. Opta-se por estimular a posição de extensão do joelho SEM presença de apoio na região. Esses apoios podem gerar deformidades em flexão que permanecerão por longos períodos de tempo. 

Figura 7: NÃO se deve utilizar apoio na região da fossa poplítea.
Figura 7: NÃO se deve utilizar apoio na região da fossa poplítea.

Eletroestimulação 

Aparentemente, quanto mais cedo for iniciada, melhores os resultados. Estudos apontam que a estimulação por corrente elétrica que vise restabelecer o padrão de força é muito útil para controle da inibição artrogênica decorrente do processo cirúrgico. Sugere-se a utilização desde o PO2, com indicativo de melhora da força de quadríceps e de isquiotibiais, melhora da amplitude ativa de extensão do joelho e também apresenta melhores índices nos testes funcionais, como o TUG, e questionários, como o WOMAC, pelo menos no médio prazo. Mais estudos ainda são necessários para confirmar benefícios clínicos a longo prazo (Peng et al, 2021).

Além disso, é importante considerar que nas fases mais agudas do tratamento, eletroestimulação com o objetivo de analgesia também pode (e deve) ser indicado. (Zhu et al, 2021)

Crioterapia

A nossa boa e velha crioterapia também é objeto de estudo nos casos de dor pos ATJ. Estudos robustos sugerem que, durante a primeira semana pós-operatória, observa-se uma diminuição significativa no uso de opióides quando a crioterapia é aplicada corretamente. Além disso, os pacientes relatam uma redução na intensidade da dor. 

No entanto, como os estudos sobre esse assunto são muito heterogêneos, ainda precisamos estabelecer um bom protocolo de utilização. Entender qual temperatura devemos atingir, a frequência de uso, duração de tratamento são alguns dos itens que ainda precisamos entender. Mas é uma ótima opção para as primeiras semanas do tratamento (Wyatt et al, 2022). 

Exercícios de fortalecimento 

Preconiza-se a utilização de exercícios para fortalecimento do membro inferior de maneira geral, sendo que a ênfase principal é para o músculo extensor do joelho. Ressalta-se a importância desses exercícios desde o início do PO, sempre considerando a carga possível de acordo com a capacidade do paciente, bem como a capacidade de se realizar o exercício na máxima amplitude daquele momento. 

Obviamente, a progressão de carga é imprescindível para o avanço do caso, sempre conforme o tolerado. 

Durante a reabilitação, é importante avaliar a qualidade da contração e relaxamento muscular, especialmente em relação aos músculos quadríceps e isquiotibiais. Também é essencial testar, repetidas vezes ao longo do processo de reabilitação,  a força dos músculos envolvidos no movimento do joelho, incluindo o quadríceps, isquiotibiais, glúteo máximo, gastrocnêmios, fibulares, tibial anterior e tibial posterior, para estabelecer metas realistas para a recuperação do paciente.

Descarga de peso

A depender do tipo de procedimento que for realizado, costuma-se liberar descarga de peso conforme o tolerado pelo paciente desde as primeiras 24 horas de PO. Os pacientes que foram submetidos a mobilização precoce e que deambulam nas primeiras 24 horas costumam apresentar menores índices de incapacidade e de mortalidade. É válido ressaltar que o treino com dispositivos auxiliares deve ser feito previamente, na fase pré-cirúrgica, se possível. Inclusive, quanto mais rápido for a liberação para deambulação, melhor costuma ser a evolução dos pacientes. Em até 2 semanas, o paciente costuma estar apto para marcha sem auxílio. Aqui, vale a ressalva que devemos ficar atentos aos sinais e sintomas que o paciente possa vir a apresentar. 

Ganho de amplitude de movimento

Para melhorar a ADM, mobilização passiva (através da terapia manual), mobilizações cicatriciais para evitar aderências, mobilizações articulares livre de dor na ADM tolerada, são ferramentas indispensáveis no processo. Assim que possível, estimular a movimentação ativa, com utilização da gravidade por exemplo, é uma boa estratégia para ganhar a ADM de flexão do joelho.  

Para manter a amplitude de movimento (ADM) do joelho na fase tardia da reabilitação da artroplastia total do joelho (ATJ), uma estratégia que pode ser benéfica é a utilização da bicicleta estacionária. Dependendo das limitações do paciente, é sugerido que ele comece com movimentos anteriores e posteriores até que sua ADM seja suficiente para realizar o ciclo completo de pedalada.

Paciente realizando uma mobilização em flexão de joelho, utilizando da força de gravidade.
Figura 8: Paciente realizando uma mobilização em flexão de joelho, utilizando da força de gravidade.
Figura 9: Paciente realizando flexão máxima, sentado na cadeira
Figura 9: Paciente realizando flexão máxima, sentado na cadeira
Figura 10: Paciente realizando flexão máxima, apoiando joelho em um banco

Equilíbrio 

Preconiza-se, desde quando for tolerado pelo paciente, realizar exercícios que estimulem a marcha, que estimulem atividades comuns do dia-a-dia, exercícios com pistas visuais e dupla-tarefa para estímulos cognitivos associados a treino de marcha, sejam em superfícies estáveis sejam em superfícies instáveis, se assim for tolerado e dentro de um contexto funcional (Doma et al, 2018).

Resumo dos principais objetivos de cada uma das fases da reabilitação Pós-Operatória: 

O que NÃO devemos fazer em nossos tratamentos?

Além de apresentar o que a ciência mostra que funciona nos casos de pós-operatório que estamos falando, é  importante salientar o que NÃO FUNCIONA nos casos de PO de ATJ.

Tratamento passivo

Ficou evidente nos parágrafos anteriores a importância da eletroterapia e da crioterapia, por exemplo. Mas isso tudo só fará sentido se fizer parte de um conjunto de intervenções. Em um caso como esse que o que importa são os ganhos musculares por exemplo, apenas estratégias passivas não levarão ao objetivo final.

Olhar apenas para o curto prazo

Vivemos em um mundo em que as pessoas buscam soluções rápidas para perder peso, enriquecer e resolver suas dores instantaneamente. Porém, a verdade é que não existem atalhos na vida. Acreditar em uma única técnica ou terapia como a solução mágica para todos os problemas de saúde sempre é enganador. Nesses casos, que o período inicial é complicado, que o paciente irá sentir desconforto e que os ganhos principais demoram para aparecer, é imprescindível que você apresente aos pacientes um plano de tratamento, mostrando o começo, o meio e o fim para que o paciente consiga entender seu papel mais ativo no processo. 

Complicar demais as coisas

Você conseguiu apurar bem qual é o objetivo final que o paciente quer? A sua intervenção está deixando-o mais próximo disso? Se sim, ótimo. Se não, será que você não está querendo inventar demais? O simples, quando bem feito e bem organizado, vai te ajudar. Por que você precisa colocar o paciente para fazer um exercício de equilíbrio em cima da bola, em cima da cama elástica e no alto da sua maca? O que isso vai acrescentar? Faça o básico bem feito!

Terapias “alternativas”

Estratégias como dry-needling, acupuntura, ventosa, kinesiotaping, podem até ajudar em algumas condições. Mas nesse caso de PO, você está usando essa intervenção por algum propósito? Pense no custo-benefício do que você irá propor!  

Critérios de alta

Não existe uma diretriz que aponte os principais critérios de alta nesses casos. 

No entanto, ao olhar para a progressão esperada e para a literatura, podemos entender que a alta clínica será realizada quando: 

→ O paciente conseguir realizar praticamente todas as atividades funcionais que fazia antes;

→ Atingir as expectativas do paciente em relação à sua condição inicial;

→ Boa pontuação nos parâmetros físicos, escalas e questionários (Dor, ADM, WOMAC, KOOS, cinesiofobia, TUG, por exemplo). 

Considera-se, pela literatura, que um tempo ótimo de reabilitação da ATJ está por volta de 12 meses para a completa recuperação funcional e da marcha do paciente.

Recomendações de exercícios pós-ATJ incluem caminhada, natação, ciclismo, dança e exercícios de força e alongamento como Pilates e yoga. Esportes de alto impacto, como corrida e esqui, costumam ser evitados.

O paciente pós-ATJ pode voltar para atividades esportivas?

Essa é uma pergunta que costumamos ouvir antes mesmo da cirurgia ser realizada, não é mesmo? 

Em uma revisão sistemática de 2016 (Witjes et al, 2016), a conclusão principal foi de que é possível retornar ao esporte e à atividade física, com porcentagens variando de 36% a mais de 100% do total de pacientes submetidos ao procedimento. No entanto, a participação em esportes parece ser mais provável, incluindo esportes de maior impacto, após a artroplastia unicompartimental quando comparada com a total, embora após ambas as cirurgias os pacientes tendam a retornar a esportes de menor impacto. 

No entanto, a qualidade geral dos estudos incluídos eram limitadas devido à fatores confundidores e risco de viés moderado na maioria dos estudos.

Como fisioterapeutas, é essencial reconhecer o potencial dos indivíduos em retomar um estilo de vida ativo após a artroplastia de joelho. 

Embora as evidências sugiram que o retorno ao esporte é viável, devemos considerar as características específicas de cada paciente e adaptar nossos planos de tratamento de acordo com cada paciente.  

Ao enfatizar a importância de uma abordagem gradual e individualizada, podemos ajudar os pacientes a retornar ao esporte e à atividade física com segurança. 

Aprimorando a nossa compreensão dos fatores que influenciam os resultados do retorno ao esporte, podemos otimizar os protocolos de reabilitação pós-artroplastia e melhorar os resultados para os pacientes.

Considerações finais

A ATJ, quando bem indicada, costuma contribuir para uma melhor qualidade de vida nos nossos pacientes. Mais de 90% das ATJs modernas se mantêm em bom estado de conservação em até 15 anos após o procedimento. 

Embora seja uma cirurgia de grande porte, se realizada com o cuidado adequado tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório, pode minimizar os riscos e levar a uma recuperação plena.

A fisioterapia tem um papel fundamental na melhora desses pacientes. A reabilitação precoce, ainda na fase hospitalar, é fundamental para evitar complicações como déficits de flexão funcional ou extensão total do joelho. E o melhor de tudo é que essa é a forma mais eficiente de alcançar uma recuperação completa e independência funcional. E tem mais: o acompanhamento ambulatorial na fase tardia é essencial para que o paciente progrida e possa voltar até às atividades esportivas sem medo de ter uma recaída.

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Referências

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